by Claudio Erlichman. Now on stage at Teatro Estúdio, the musical is directed by Gustavo Barchilon, and stars Gabi Camisotti, Diego Montez and a talented cast.
São Paulo, Brazil — Lewis Carroll's English literature classic is given a new setting in the musical Alice by Heart, this time in a bunker during the World War II. The play opened in 2012 in London at the Royal National Theatre and later received a notable production on the Off-Broadway circuit in New York. Conceived by the duo Diego Montez and Gabi Camisotti and directed by Gustavo Barchilon, the show is the Brazilian version of the production originally staged in London, with music by Duncan Sheik and lyrics by Steven Sater - the same team who wrote the musical Spring Awakening.
The plot follows Alice Spencer, a young girl who takes refuge in her worn-out Alice in Wonderland book while trapped in a bunker with her childhood friend Alfred, who is seriously ill. After a bombing, as the horrors of war intensify, the girl escapes to a fantasy world, where she can rewrite her own story and find strength to deal with the brutal reality around her. However, as she delves deeper into Wonderland, she finds herself confronted by challenges and characters that reflect her fears, her loss and her need to grow up. The story unfolds as a journey of self-discovery, in which the girl must learn to let go of the past and find a new way to move forward. In this new setting, the characters from Carroll's appear on the scene in new guises: the soldiers, nurses and patients in the bomb shelter take on the roles of the Mad Hatter, the Cheshire Cat, the Queen of Hearts, etc. This creates an intriguing effect of reality mixed with fantasy.
Now, the show is coming to Brazil with an unprecedented version called Alice de Cor e Salteado, adapted by Rafael Oliveira, with its premiere season at Teatro Estúdio, in São Paulo, from June 7 to August 4, 2025. It also has Gui Leal as musical director and Ciça Simões as choreographer to complete the creative team.
Produced by BARHO and MoCa, the Brazilian version features Gabi Camisotti as Alice Spencer, alongside Diego Montez as Alfred and the White Rabbit. The cast also includes Yasmin Gomlevsky, Valeria Barcellos, Renan Mattos, Bruna Pazinato, Thales César, Jessé Scarpellini, João Victor, Bruno Sigrist, João Ferreira, Helena Bastos and Mô Amaral. Alice by Heart is a powerful metaphor for resilience, death, grief and the transformative power of imagination.
O clássico da literatura inglesa de Lewis Carroll ganha uma nova ambientação no musical Alice de Cor e Salteado (Alice by Heart). Originalmente situado em um bunker durante a II Guerra Mundial, a obra estreou em 2012 em Londres e, posteriormente, ganhou uma produção de destaque no circuito Off-Broadway, em Nova York. Com idealização da dupla Diego Montez e Gabi Camisotti e direção geral de Gustavo Barchilon, o espetáculo é a versão brasileira para a montagem originalmente encenada em Londres, com música de Duncan Sheik e letras de Steven Sater — os mesmos do musical O Despertar da Primavera
Alice no País das Maravilhas (1865) e Através do Espelho (1871), de Lewis Carroll (1832-1898), inspiraram continuações transcendentes em livros, filmes, televisão, dança, peças teatrais, musicais, histórias em quadrinhos, videogames... É difícil acreditar que ainda há tanto chá no bule de Alice, mas esta história de uma garota gentil conquistando o desconhecido sobrenatural continua a inspirar novas interpretações e atrair o público.
As produtoras BARHO (de Thiago Hofman e Gustavo Barchilon) e MoCa (de Gabi Camisotti e Diego Montez) apresentam sua versão do País das Maravilhas com Alice de Cor e Salteado (Alice by Heart) até 04 de agosto no Teatro Estúdio. Dirigida por Barchilon e direção de produção de Hofman, esta montagem do musical de 2012 de Jessie Nelson (The Waitress, 2016) e Steven Sater, com música de Duncan Sheik, os mesmos do musical O Despertar da Primavera (Spring Awekening, 2006), é tão inusitada quanto sua premissa e dá vida ao País das Maravilhas com cenografia e figurinos criativos, iluminação de show de rock e um elenco que não tem medo de ousar.
A história de Sater e Nelson tem inspiração em iterações passadas dos livros originais e de outras obras, ao mesmo tempo em que injeta algo novo e empolgante. Ambientado durante a II Guerra Mundial, o musical encontra a personagem principal Alice Spenser (Gabi Camisotti) em um bunker britânico, evitando os ataques aéreos (embora, tendo como base seus companheiros de bunker, o espaço também pode ser um asilo — o libreto não deixa claro). Alice, em negação sobre a tuberculose terminal de seu melhor amigo Alfred (Diego Montez), decide descer ao País das Maravilhas para que o casal possa fugir da realidade e assim ter uma última aventura, mergulhando em seu romance favorito. O plano começa a dar errado imediatamente, quando uma enfermeira da Cruz Vermelha, furiosa ao descobrir que Alice violou a quarentena, arranca o livro de suas mãos e o destrói. Alice fica devastada, mas determinada a continuar insistindo que sabe a história "de cor e salteado", daí o título do show. No momento em que Alice e Alfred descem pela toca, ele se transforma no Coelho Branco que está ficando sem tempo, assim como Alfred. Tanto as letras quanto os diálogos contêm inúmeras referências explícitas ao tempo. É evidente que o musical quer usar este tema — e os dias limitados de Alfred — para se tornar um lembrete pungente para o público. A realidade de Alice se fragmenta, a narrativa se distorce em novas formas, e nossa protagonista se vê presa nas páginas de uma história que não é bem o que lembramos. Ainda assim aqui temos as frases familiares do livro — o Gato que Ri (Yasmin Gomlevsky) observa: "Quase todo mundo é louco aqui". O Chapeleiro Maluco (Renan Mattos) pergunta: "Por que um corvo é como uma escrivaninha?". A Rainha de Copas (Valeria Barcellos) berra: "Cortem-lhe a cabeça!". O recurso de transformar pessoas do mundo real da protagonista em personagens de fantasia espelhados é como em O Mágico de Oz. Embora a ambientação inicial de Londres durante a Blitzkrieg nazista de 1940 seja nova, o fato de se passar com Alice internada em um asilo e entrando e saindo da realidade não é, apresentado anteriormente no videogame de terror American McGee's Alice.
O que é revigorante são as novas adições à história e como elas são interpretadas através da direção e das escolhas dos atores. Músicas cativantes permitem que os atores se estendam, corram e incorporem fisicamente a loucura de cada personagem; as composições em estilo pop de Sheik, com suas características mudanças suaves de acordes e modulações de tom, são como uma rajada de vento emocional que impulsiona a ação no palco. A maior parte dos personagens do País das Maravilhas são familiares, mas muitos são satiricamente remodelados: Thales César e Bruna Pazinato como as Lagartas são alucinadas e fazem do número Deixa a Brisa Entrar (Chillin’ the Regrets) algo lisérgico num grande momento do show. Bruno Sigrist, como a Duquesa, entrega uma drag queen dramática, afiada e hilária na medida certa, tirando muitas risadas da plateia. O elenco, aliás, não se poupa de nada. Gabi Camisotti como Alice é a combinação perfeita de vulnerabilidade e resistência, com medo de perder seu amado amigo enquanto luta contra monstros e canta sucessos como nos números Não Encolho Mais (I’ve Shrunk Enough) e Na Toca (Down the Hole). Diego Montez como o inquieto e obcecado Coelho Branco e enternecedor como Alfred complementa Gabi tanto na química física quanto na música, entregando duetos magicamente harmoniosos como no tocante ‘eleven o’clock number’ Entardecer (Afternoon). Gabi e Diego foram os idealizadores do espetáculo. O Chapeleiro Maluco de Renan Mattos é maravilhosamente maníaco e assustador, nos presenteando com um monólogo impressionante na cena do Chá Maluco. Jessé Scarpellini que há muito tempo não o via num musical, retorna provando ser um ator talentoso, e seu personagem Jabberwock, muito bem definido e interpretado com fúria é um deleite como podemos ver no número Briluzia Feito o Sol (Brillig Braelig). Yasmin Gomlevsky tem uma bela voz para cantar em seu papel do Gato que Ri, e muita expressividade fazendo caras, bocas e olhares, praticamente não saindo de cena. Destaque também vai para Valeria Barcellos que no papel da Enfermeira da Cruz Vermelha/Rainha de Copas emana de forma potente a diversificação da personagem icônica. João Victor, João Ferreira, Helena Bastos e Mô Amaral completam um elenco escolhido a dedo, harmônico e muito entrosado e que se percebe numa vibe de que não apenas atuam muito bem, mas efetivamente, como conferi na sitzprobe em que fui convidado, se interessaram e se envolveram pelo conteúdo da peça, pela preparação do personagem, se emocionando com sua construção. Muito disso se deve à generosidade de Gustavo Barchilon como diretor, e na troca que ele tem com os atores, causando este estímulo positivo nos elencos de suas peças, todos sempre com uma grande química.
Lewis Carrol era um representante da literatura nonsense, do realismo fantástico. Essa escola literária subverte as regras da lógica e da linguagem, criando narrativas e situações absurdas e oníricas, que muitas vezes remetem ao mundo dos sonhos. E a direção de Barchilon consegue colocar este clima surreal, irônico e fantástico no musical. Isto é perceptível não só na encenação em si, mas como também nos detalhes técnicos dando toda uma unidade. Por exemplo, os figurinos de Luisa Galvão que usa peças de acervo, brechó ou especialmente confeccionadas, além de objetos que teriam num bunker, como as máscaras de gás que se tornam flamingos, capacetes que viraram tartarugas, travesseiros e cortinas que se transformam na roupa da Condesssa ou máscaras cirúrgicas tornando-se o traje da Rainha de Copas... O azul claro do figurino de Alice nos remete ao desenho animado da Disney assim como a palheta de cores da touca e do cachecol do Gato que Ri. Isso é o surrealismo, a Gestalt, pegar uma parte de um elemento para fazer parte de um todo, como vemos nos quadros de Dalí e Magritte, e dialogando com o teatro do absurdo de Ionesco ou Bekett na medida certa, onde elementos criativos de produção criam um mundo imersivo. O design cenográfico de Natália Lana utiliza o espaço do Teatro Estúdio de forma muito bem aproveitado, transformando-o numa arena de quatro setores, cada setor um naipe do baralho, dando uma certa noção de labirinto, com uma espiral no tablado e dezenas de livros pendurados pelo teto, transportando o público de forma interativa para dentro do espetáculo. O design de iluminação de Maneco Quinderé é composto por um conjunto de LEDs multicoloridos e de refletores móveis a partir do chão criando atmosferas que hora são grandiosas como num show em um estádio ou suaves como uma ponte iluminada pelo luar.
Uma pequena e potente banda ao vivo toca as músicas que às vezes são belas e às vezes dissonantes, criando uma atmosfera que reflete perfeitamente a natureza agridoce da história sob ótima direção musical de Gui Leal, fazendo justiça às canções e orquestrações de Sheik, assim como a preparação vocal de Rafael Villar. Originais, as coreografias e direção de movimento de Ciça Simões criam uma cinesia peculiar de danças e gestuais que formam a atmosfera de um abrigo/asilo distorcido. A adaptação de texto e a versão brasileira das letras por Rafael Oliveira é mais um ótimo trabalho seu já que teve que se atentar sem perder o vínculo nas músicas que são em sua maioria retiradas dos temas do livro, ou no caso de Briluzia Feito o Sol (Brillig Braelig), do texto original do romance.
Sofisticado e moderno a Alice de Cor e Salteado, de Gustavo Barchilon, explora de forma comovente a perda e o escapismo, repercutindo profundamente em espectadores de todas as idades. A encenação inovadora e conceitual, como um teatro circular, aliada ao uso inteligente de adereços e efeitos visuais, cria uma atmosfera hipnotizante, surreal e comovente. A esfera absurda do País das Maravilhas colide vertiginosamente com os horrores da Blitz de Londres, a ponto de ser difícil discernir onde um começa e o outro termina. A produção cria uma experiência psicodélica e kafkiniana e, contra todas as probabilidades, consegue equilibrar esse caos com a história melancólica de uma adolescente que só quer que o mundo pare por um instante para que ela possa ter mais tempo com seu melhor amigo. Embora a obra Alice no País das Maravilhas já tenha sido minuciosamente explorada, ainda há ouro a ser encontrado e Alice de Cor e Salteado dá nova vida a um antigo clássico com profundidade e originalidade. É imperdível para quem aprecia teatro que desafia, comove e inspira — uma travessia inesquecível pelo caos da guerra e pelo santuário da imaginação numa produção primorosamente elaborada e emocionalmente ressonante. Recomendo fortemente a todos que buscam uma jornada teatral imaginativa e significativa!
Ficha Técnica:
Músicas: Duncan Sheik
Letras: Steven Sater
Libreto: Jessie Nelson
Adaptação de texto e Versão Brasileira: Rafael Oliveira - @rafaelfso
Direção Artística: Gustavo Barchilon - @gustavobarchilon
Direção Produção: Thiago Hofman - @thihoff
Direção Musical: Gui Leal - @guihleal
Coreografia e Direção de Movimento: Cecilia Simoes - @csimoes10
Preparador Vocal: Rafael Villar @_rafaelvillar_
Cenografia: Natália Lana - @cenarionatalialana
Desenho de Luz: Maneco Quinderé - @maneco_quindere
Figurino: Luisa Galvão - @lugalvao_beauty
Design de Som: João Baracho - @jhbaracho
Assistente de Figurino e Objetos: Acrides - @acridesjr
Assistente de Direção: Lara Mendes - @laramendesf
Assistente de Direção Musical: Mô Amaral - @moamaralg
Assistente de Coreografia: Nay Fernandes - @nayfernandes_official
Stage Manager: Andressa Cericato - @andcericato
Elenco:
Gabi Camisotti - @gabicamisotti
Diego Montez - @dimontez
Yasmin Gomlevsky - @yasmingomlevsky
Valeria Barcellos - @valeriabarcellosoficial
Renan Mattos - @orenanmattos
Thales César - @thalescesarofc
Bruno Sigrist - @brunosigrist
Bruna Pazinato - @bpazinato
Jessé Scarpellini - @jscarpellini
João Victor - @joaovictorps
João Ferreira - @notjoaoferreira
Helena Bastos - @helebastos
Mô Amaral - @moamaralg
Serviço
ALICE DE COR E SALTEADO
Temporada: 7 junho a 4 agosto de 2025
Sextas, sábados e segundas às 20h30
Domingos:
Dia 8 de junho, às 16h
15 de julho a 29 de junho, às 18h
6 de julho a 3 de agosto, às 16h
Teatro Estúdio - Rua Conselheiro Nébias 891, Campos Elíseos, São Paulo
(Próximo ao metrô Santa Cecília)
Ingressos: R$ 140,00 (inteira) / R$ 70,00 (meia)
Vendas online em Sympla. Bilheteria física aberta 3 horas antes do espetáculo.
Classificação: Livre
Duração: 90 minutos
Capacidade: 170 lugares
Acessibilidade no local
Contato: (11) 97474 1912
Instagram: @oteatroestudio
Serviço de Valet no local.
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