BWW Reviews: In The Midst Of The Biggest Water Supply Crisis In Sao Paulo, 'URINAL - O Musical' (Urinetown) Debuts With Very Crowded Sessions.

By: May. 06, 2015
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Photo by Ronaldo Gutierrez

URINAL - O Musical, the Brazilian version of URINETOWN, directed by Ze Henrique de Paula, arrives in Sao Paulo at the Teatro do Nucleo Experimental, in Barra Funda. The stage production, whose project was awarded by Ze Renato Theater Award, has as its main inspiration the German cabarets of the first half of the twentieth century, especially the works of Bertolt Brecht and Kurt Weill.

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Paris 'abunda' em toaletes públicos. Impossibilitado de arcar com o preço de admissão em um destes quando estava por lá, viajando quando era um estudante e o orçamento limitado, Greg Kotis concebeu a idéia de uma corporação possuindo os direitos do abastecimento de água de uma cidade e permitindo seus cidadãos a utilizar as comodidades públicas mediante o pagamento de uma taxa. Ele pensou que isto daria um musical "porque era muito absurdo". Ao ser desenvolvido, se tornou uma sátira comentando o papel do governo, as responsabilidades dos cidadãos, a burocracia, o capitalismo, a má gestão corporativa, o populismo e os musicais à moda antiga.

URINAL - O Musical, um dos musicais mais engraçados dos últimos anos, está causando grande alvoroço durante sua temporada no Núcleo Experimental. Tendo somente 56 lugares, os ingressos se evaporam como água, com o perdão do trocadilho, em concorridas sessões. O show é uma fábula hilária sobre cobiça, corrupção, amor e revolução, em um tempo onde a água tem seu valor medido a peso de ouro. Numa cidade entre Gotham City e Mahogany, - e por que não São Paulo - uma terrível escassez de água, cuja causa é um desvio dos encanamentos feito há vinte anos, leva o governo a forçar um banimento dos toaletes particulares. Os cidadãos são obrigados a utilizar as instalações públicas, regulamentadas por uma única e malevolente companhia, a Companhia da Boa Urina, que lucra ao cobrar admissão para uma das mais básicas necessidades humanas. No meio do povo, um herói decide dar o basta, e planeja uma revolução que os conduzirá a liberdade!

O sucesso de URINAL é tão improvável quanto o título do show. Sendo na época em que estreou na Broadway, um dos poucos musicais não baseados em material já existente como fonte, esta história ultrajante e futurista, onde o povo tem que pagar pelo "privilégio de fazer xixi", foi um hit instantâneo junto a um público mais alternativo. O boca-a-boca espalhou-se rapidamente e o show que havia estreado no Fringe Festival, em 1999, conseguiu uma carreira na off-Broadway, em 2001. As críticas que se seguiram foram de tal forma entusiasmadas, que o musical acabou se transferindo para a Broadway, estreando em setembro, de 2001.

Aqui no Brasil não é diferente. A plateia aplaude as divertidas referências a musicais clássicos. O prólogo lembra muito Kurt Weill - não só melodicamente, mas de todas as outras formas e nos prepara para o que virá pela frente. 'Só Quem Paga Faz Xixi' lembra 'Morning Anthem' (da Ópera dos Três Vinténs) e a prolixa 'Canção dos Policiais' nos recorda Der Silbersee. 'Escute Seu Coração' parece Reuben, Reuben, de Blitzstein - co-autor de A Ópera dos Três Vinténs. O 'Ato I-Finale' - que combina A Ópera dos Três Vinténs e Cradle Will Rock (O Poder Vai Dançar), também de Blitzstein, é absolutamente estiloso ao abrir um coro de 7 vozes cantando quatro melodias diferentes. No segundo ato os autores são perspicazes o suficiente para mudar as referências, e a inspiração pode vir tanto de Um Violinista no Telhado ('O Que É Urinal'), do 'Cool', de West Side Story e do 'Too Darn Hot', de Kiss me, Kate! na jazzística 'Apague Essa Luz'. O nome dos personagens parece da família, no universo paralelo, de Guys and Dolls. Penélope Peneira, a malvada zeladora das chaves do lavatório, perfeita na atuação de Nábia Vilella, lembra uma Mrs. Lovett (de Sweeney Todd) do esgoto. As coreografias tão características de Bob Fosse e Jerome Robbins também aparecem em determinados momentos. Referências a The Fantastiks, LES MISERABLES, Evita, Chicago e Annie podem ser encontradas aqui e ali.

URINAL ganhou os prêmios Outer Critics Circle e o Drama Desk de Melhor Musical e foi indicado para impressionantes 10 Prêmios Tony, vencendo Melhor Libreto (Greg Kotis), Score (Mark Holman e Greg Kotis) e Direção (John Rando). O fato de não ter ganhado o Tony de Melhor Musical, perdendo para Positivamente Millie, foi um verdadeiro escândalo na época, só podendo ser explicado pelo fato de que muitos dos votantes do Tony são pessoas que têm interesses em teatros por todos os Estados Unidos, que lucrarão muito mais se um musical fizer uma turnê nacional bem sucedida. Obviamente, pelo seu tema mais adulto e inusitado, URINETOWN não se encaixava neste quadro. O musical sempre foi muito bem de bilheteria, porém no início de 2004, os produtores foram notificados que o Teatro Henry Miller, onde o show era levado, iria ser derrubado para dar lugar a um novo arranha-céu. O musical teve ordem de vagar o teatro até fevereiro daquele ano. Planos para encontrar um novo lar para URINAL na Broadway, nunca se materializaram, e o show foi forçado a fechar as portas em janeiro de 2004, após 965 performances.

URINAL cintila pela obra de Bertolt Brecht / Kurt Weill, abordando temas da mesma opinião. E você de fato se sentirá transportado para um cabaré literário alemão. Tem um dos scores mais inteligentes de todos os musicais que conheço. No entanto, você não precisa reconhecer a conexão ou a maneira maliciosamente precisa do score e do enredo ecoadas nesses musicais germânicos para desfrutar do show. Nele o compositor/letrista Mark Hollmann e o letrista/libretista Greg Kotis compuseram uma partitura cheia de harmonia (por vezes dissonante), melodia experimental e muito afinada, que consegue debochar até mesmo quando presta homenagem. Tudo isso em mãos erradas poderia ter se transformado numa sombria piada interna, o que não é o caso aqui.

Enquanto satiriza clichês dos musicais em músicas e diálogos, os criadores atravessam uma tênue linha com a agilidade de acrobatas profissionais. Eles transbordam seus talentos ao brincar com as convenções dos musicais, os nomes dos personagens e o título das músicas. Assim temos uma balada de duplo sentido em 'Escute Seu Coração', a virada cômica na diabólica 'Não Seja o Pato', e o gospel engrandecedor, ainda que vazio, 'Liberdade É Bom!'. 'Patrãozinho' é um típico sapateado da Broadway no estilo soft-shoe, e 'Eu Vejo Um Rio' uma falsa marcha.

O elenco irrepreensível é liderado por Caio Salay (o acérrimo herói Bonitão), Roney Facchini (como o miserável avarento Patrãozinho), Luciana Ramanzini (a preciosa e irreverente menina de rua Garotinha), Bruna Guerin (a sincera e inocente Luz) e Daniel Costa como Policial, o irônico narrador da história. Todos os atores, num elenco de 13, têm o fervor necessário, e conseguem encontrar a centelha da verdade em personagens que parecem tirados de desenho animado onde também se destacam as atuações de Gerson Steves (como o escroto Senador), e Fábio Redkowicz (o guarda Berro e Paquito). O trabalho do diretor Zé Henrique de Paula é caprichado, sempre mostrando um exercício inusitado e singular, e com os coreógrafos Gabriel Malo e Inês Aranha, segue as mesmas mudanças e os vários estilos do teatro musical citados na peça. Este score muito acima da média é muito bem acompanhado por uma animada banda de sete músicos, com Fernanda Maia na regência, que juntamente com o diretor fez a primorosa versão em português, com supervisão de Claudio Botelho, capturando ao espírito e a essência do original. O espaço espontâneo e natural do galpão na Barra Funda, onde está localizado o Núcleo Experimental, é muito bem aproveitado com cenário preciso de Zé Henrique que também assina os figurinos atemporais e distópicos, ambos feitos com materiais reciclados e não comprados.

Zé Henrique de Paula já vinha trabalhando neste musical há dois anos quando primeiro o montou para uma apresentação em um curso. Portanto não poderia prever a involuntária atualidade que o espetáculo tomou com a atual crise hídrica que a cidade vem atravessando e a operação lava jato, ganhando um sabor extra.

Como se os trabalhos de Weill/Brecht/Blitzstein se encontrassem com a obra de Lewis Carrol, URINAL - O Musical é A Ópera dos Três Vinténs dos dias de hoje. Uma sátira humorística e irreverente na qual ninguém escapa incólume. Louvado por revigorar a noção sobre o que um musical deve ser, URINAL catapultou a comédia musical para o novo milênio com sua perspectiva ultrajante, sua sagacidade perversamente moderna, e habilmente sustentada para produzir uma enchente de gargalhadas desenfreadas. O libreto de Greg Kotis é uma sátira carinhosa sobre todos os elementos que fazem uma obra musical se tornando um antimusical afetuoso.

...E viva Malthus!

Serviço:

URINAL - O Musical

Texto: Greg Kotis e Mark Hollmann.

Direção: Zé Henrique de Paula.

Direção Musical e Regência: Fernanda Maia. Com a Cia Núcleo Experimental. Elenco: Adriana Alencar, Bia Bologna, Bruna Guerin, Caio Salay, Daniel Costa, Fabio Redkowicz, Gerson Steves, Luciana Ramanzini, Nábia Vilella, Paulo Marcos Brito, Roney Facchini, Thiago Carreira, Thiago Ledier.

Músicos: Rafa Miranda (Piano), Clara Bastos e Pedro Macedo (Baixo), Rafael Heiss e Abner Paul (Bateria), Flávio Rubens (Clarinete e Saxofone) e Valdemar Santos Nevada e Evandro Bezerra (Trombone).

Endereço:

Teatro do Núcleo Experimental

Rua Barra Funda, 637

Barra Funda - São Paulo - SP

Tel: 3259-0898

Compre pelo telefone de segunda a domingo das 9h às 21h

(11) 2122-4070

Temporada:

Sextas, sábados e segundas 21h | Domingo 19h

até 06 de Julho de 2015

Ingressos:

R$ 40,00 (inteira) e R$20,00 (meia)

Bilheteria funciona somente em dias de espetáculo, 1 hora antes do início da sessão. Aceita cartões. Acesso para pessoas com deficiência. Ar Condicionado. Estacionamento na frente do teatro (não conveniado). Café no hall do teatro.

Descontos:

50% para pessoas de idade igual ou superior a 60 anos.

50% para estudantes.

Duração: 1h50 minutos (mais 15 minutos de intervalo)

Recomendação: 10 anos

obs - Entrada gratuita às sextas-feiras, com ingressos distribuídos na bilheteria do teatro uma hora antes do início da sessão.



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