Mon€y é um espetáculo de teatro que resulta de uma colaboração entre a mala voadora e a artista Deborah Pearson, no qual se assiste à gravação de dois episódios de uma sitcom. O público de teatro é portanto colocado na situação em que habitualmente se encontra o público que, nos estúdios de sitcoms, assiste às gravações e, tal como aí acontece, ouve gargalhadas gravadas que passam por ser suas, e é entretido nas paragens das gravações por um ator.
No primeiro episódio produz-se um desencontro entre a lógica televisiva (o estúdio) e o contexto teatral (a sala onde tudo isto efetivamente acontece), mas o episódio em si é perfeitamente canónico: tem princípio, meio e fim, obedece a todas as prescrições dos manuais desse tipo de escrita e acaba, naturalmente, com uma notícia que cria suspensão em relação ao que vai acontecer a seguir, no próximo episódio. São as regras do jogo.
O segundo episódio também começa de modo canónico, repetindo o tipo de ingredientes e punch lines do primeiro episódio que faz com que o público ganhe familiaridade com a narrativa e com as personagens, mas o tema do dinheiro faz com que nem tudo corra bem. Ao mesmo tempo que as personagens insistem em argumentar – mal – sobre grandes questões económicas do mundo, a tensão aumenta para lá do conveniente, os comportamentos degradam-se, o entertainer dos intervalos entre gravações torna-se violento, e a leveza televisiva é substituída por um caos decadente. Passa-se da pergunta "Mas isto é uma sitcom?” para a pergunta "Mas o que raio se passa aqui?”. Enfim, encontra-se uma saída para a situação na rutura física do cenário. No colapso material do espetáculo.